Dizem-me: " Não basta saber. Mais importante que saber é o que se faz com aquilo que se sabe.", ou " a pessoa não se avalia pelo que sabe, mas pelo que é, pela sua capacidade de bondade, de compaixão, de sentimentos."
Sem negar as afirmações, não concebo o Conhecimento como mero acréscimo à capacidade de se ser um Ser Humano.Ser passará, então, para muitos ou poucos de nós, por Saber. Esses muitos ou poucos para os quais o Conhecimento é algo mais que instrumental à vida, não o concebem senão como um caminho. Ou destino. Um destino que é o seu próprio caminho.
A questão que se põe será a de saber do que é que é preciso abdicar em prol desse Conhecer último, se é que abdicar é, em sua função, exigido.Até que ponto haverá contraposição entre Procurar, Aprender, tentar conhecer, e sentir. Até que ponto certos seres dotados daquela propensão para o génio tão incomum a muitos de nós sacrificam, em prol dessa genialidade, ou devido a ela, a capacidade de experimentar certas emoções, ofuscadas numa necessidade preemente de racionalidade, ou o tempo e a vontade de as viver, segundo a ideia de que esses sim, instrumentias, não são essenciais.Até que ponto terá o que "sabemos" que ser transposto para o mundo físico-sentimental e tratar-se-ão de mundos ligados, ou antes de realidades à parte que se anulam, quando em confronto, deixando a sua mácula uma na outra quando confundidas?
A genialidade fascina-me. A palavra é essa: fascínio. Se há ou não uma genialidade sentimental, suponho que sim, e que me fascinará do mesmo modo, como genialidade que é. Será viável procurar as duas?
Alguma vez se sabe?A pergunta é antiga. Se se sabe, não terá isso necessariamente como consequência que se sente?
Interrogo-me porque razaõ indivíduos geniais se afirmam incapazes de sentir, de assimilar essa outra face da realidade de uma forma diferente da nossa, comuns mortais desconhecedores e incapazes de um Conhecimento Maior porque, se por um lado, se compreende que a razão analise e anule os devaneios e explosões emocionais, certo é também que o verdadeiro sentimento, o sentimento de plena consciência, o sentimento válido, só se consegue SABENDO.Amar sem conhecer não é amar.Ser compassivo sem consciência não é sentir compaixão.Sorrir sem interpretar a razão que nos leva a fazê-lo pouco mais será do que um acto reflexo, ou um automatismo sem significação. O que concede ao acto a sua capacidade de SER um acto, é o significado.E esse só lhe é dado através do entendimento desse mesmo acto como um acto com este ou aquele significado.Logo, pelo SABER o acto, e não pelo agir.O que levanta a questão da complementariedade.
A Sabedoria tem que ser, deve ser, transposta. A diferença entre a alegria inabalável daquele que ignora e aquela outra, árdua, penosa, mas plena de um sábio, reside na Verdade, da segunda, face à ilusão, da primeira.
O saber, como uma directriz, deve estar presente em todos os actos, transformando-os, engrandecendo-os, tornando-os genuínos. Sentir, por outro lado, pressupõe, na sua verdade, conhecer, sob pena de ser uma manifestação vã e vazia de impulsos primários, sem significação e, como tal, sem sentido.
A gentileza de um génio.
A resposta à questão sobre se a genialidade acarreta, necessariamente, a amoralidade, deve ser negativa. Aliás, passa-se o oposto, isto é, o conhecimento válido ( e não aquele outro que se serve de si próprio para alimentar a vaidade humana) traz consigo, sempre se bem que não só, a qualidade do sentimento, o refinamento de tudo aquilo que somos e, por isso mesmo, a consciência da bondade, da rectidão e do rigor, não só intelectual como emocional. A noção do ser e do dever ser. A necessidade imperativa de ESCOLHA. A célebre frase kantiana equivale a dizer "age para que as tuas acções, porque interpretadas, sejam lei universal" e não à comum deturpação do imperativo que nos leva a crer que qualquer atitude possa ser encarada, do ponto de vista individual, como universalmente válida, e isto independentemente da sua significação.
A ponderação cuidada deve, se o for, resultar nesse sábio sentir, e não na arrogância intelectual que assume a falta de consciência e a incapacidade de arrependimento, de humanidade e a amoralidade como atributos do super-homem. É a diferença entre fascínio e admiração, pura admiração.
sábado, 10 de março de 2007
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