domingo, 11 de março de 2007

O Bem, o Mal e a Moral Dominante

A rectidão. A transposição prática do conhecimento.O mesmo que dizer, a razão prática, que nos leva a agir segundo este ou aquele parâmetro.
Existirá uma Moral absoluta, ou toda a moral é relativa, tão relativa como o conceito de bem e de Mal, justo ou injusto, correcto ou incorrecto?O que é a rectidão, afinal?Há uma forma única de agir correctamente, ou o advérbio varia consoante aquilo que cada um de nós considera como certo?Nesse sentido, não há um saber único e, como tal, não há um saber agir único. A razão prática é insustentável?Ou é condicionante?Ou variável? Se não há uma Moral única, a "Moral" dita absoluta, haverá várias. Deve o dever - agir ir de encontro à dominante? Devo eu agir de acordo com a minha moral individual, ou a outra, a que me é imposta, ou a que sigo de bom grado?Não poderiamos encaixar aqui o conceito de Liberdade,e afirmar que é livre aquele que segue as suas inclinações, quer estas sejam ou não conformes à Moral dominante?O ser que conhece, o ser sábio, não implica, nestes termos, seguir determinado sistema moral, mas apenas conhecer, perceber e racionalizar ( sem intervenção da emoção, portanto) a atitude ou a conduta, ou mesmo o sentirmento, sem condicionamentos que não os que resultem do Saber em si mesmo?

sábado, 10 de março de 2007

Dizem-me: " Não basta saber. Mais importante que saber é o que se faz com aquilo que se sabe.", ou " a pessoa não se avalia pelo que sabe, mas pelo que é, pela sua capacidade de bondade, de compaixão, de sentimentos."
Sem negar as afirmações, não concebo o Conhecimento como mero acréscimo à capacidade de se ser um Ser Humano.Ser passará, então, para muitos ou poucos de nós, por Saber. Esses muitos ou poucos para os quais o Conhecimento é algo mais que instrumental à vida, não o concebem senão como um caminho. Ou destino. Um destino que é o seu próprio caminho.
A questão que se põe será a de saber do que é que é preciso abdicar em prol desse Conhecer último, se é que abdicar é, em sua função, exigido.Até que ponto haverá contraposição entre Procurar, Aprender, tentar conhecer, e sentir. Até que ponto certos seres dotados daquela propensão para o génio tão incomum a muitos de nós sacrificam, em prol dessa genialidade, ou devido a ela, a capacidade de experimentar certas emoções, ofuscadas numa necessidade preemente de racionalidade, ou o tempo e a vontade de as viver, segundo a ideia de que esses sim, instrumentias, não são essenciais.Até que ponto terá o que "sabemos" que ser transposto para o mundo físico-sentimental e tratar-se-ão de mundos ligados, ou antes de realidades à parte que se anulam, quando em confronto, deixando a sua mácula uma na outra quando confundidas?
A genialidade fascina-me. A palavra é essa: fascínio. Se há ou não uma genialidade sentimental, suponho que sim, e que me fascinará do mesmo modo, como genialidade que é. Será viável procurar as duas?
Alguma vez se sabe?A pergunta é antiga. Se se sabe, não terá isso necessariamente como consequência que se sente?
Interrogo-me porque razaõ indivíduos geniais se afirmam incapazes de sentir, de assimilar essa outra face da realidade de uma forma diferente da nossa, comuns mortais desconhecedores e incapazes de um Conhecimento Maior porque, se por um lado, se compreende que a razão analise e anule os devaneios e explosões emocionais, certo é também que o verdadeiro sentimento, o sentimento de plena consciência, o sentimento válido, só se consegue SABENDO.Amar sem conhecer não é amar.Ser compassivo sem consciência não é sentir compaixão.Sorrir sem interpretar a razão que nos leva a fazê-lo pouco mais será do que um acto reflexo, ou um automatismo sem significação. O que concede ao acto a sua capacidade de SER um acto, é o significado.E esse só lhe é dado através do entendimento desse mesmo acto como um acto com este ou aquele significado.Logo, pelo SABER o acto, e não pelo agir.O que levanta a questão da complementariedade.

A Sabedoria tem que ser, deve ser, transposta. A diferença entre a alegria inabalável daquele que ignora e aquela outra, árdua, penosa, mas plena de um sábio, reside na Verdade, da segunda, face à ilusão, da primeira.
O saber, como uma directriz, deve estar presente em todos os actos, transformando-os, engrandecendo-os, tornando-os genuínos. Sentir, por outro lado, pressupõe, na sua verdade, conhecer, sob pena de ser uma manifestação vã e vazia de impulsos primários, sem significação e, como tal, sem sentido.
A gentileza de um génio.
A resposta à questão sobre se a genialidade acarreta, necessariamente, a amoralidade, deve ser negativa. Aliás, passa-se o oposto, isto é, o conhecimento válido ( e não aquele outro que se serve de si próprio para alimentar a vaidade humana) traz consigo, sempre se bem que não só, a qualidade do sentimento, o refinamento de tudo aquilo que somos e, por isso mesmo, a consciência da bondade, da rectidão e do rigor, não só intelectual como emocional. A noção do ser e do dever ser. A necessidade imperativa de ESCOLHA. A célebre frase kantiana equivale a dizer "age para que as tuas acções, porque interpretadas, sejam lei universal" e não à comum deturpação do imperativo que nos leva a crer que qualquer atitude possa ser encarada, do ponto de vista individual, como universalmente válida, e isto independentemente da sua significação.
A ponderação cuidada deve, se o for, resultar nesse sábio sentir, e não na arrogância intelectual que assume a falta de consciência e a incapacidade de arrependimento, de humanidade e a amoralidade como atributos do super-homem. É a diferença entre fascínio e admiração, pura admiração.
Há uma ria escondidana floresta onde as bruxas dançam nuas ao luar
e atravessando-me nos seus gritos dessperados
por carne podre
poder carnal
talvez a venha a encontrar
reflectida nos sulcos brancos do chão de erva amachucada
aos pés das dançarinas negras que gritam o meu nome
e me esperam na encruzilhada
dos não- caminhos
no cruzamento fantasma
da minha procura
Formas de suicídio:
Arrancava uma lasca de madeira
Da árvore a que te confessas
E rasgava o peito com os teus segredos
Ou dilacerava-me nos mesmos tormentos auto-induzidos
Podia sofrer as mesmas dores que te infligem
E morrer nas mesmas angústias
Ou nos mesmos enganos
E se queimasse as asas como tas feriram a ti
Ou buscasse vingança naquilo de que te vingas
Ou me injectasse com a mesma podridão
Seria justo.
Seria justo
Que esperasse como tu a ressurreição
Que desejasse ser redimida
Que tombasse de joelhos nos mesmos degraus em que tropeças
Que me confinasse ao mesmo quarto enfermo
Que me quedasse amarrada à mesma cadeira a que te atam
E seria até justo
E porque te sou
Suicídio ainda assim
Se fosses tu a fazê-lo!
Formas de suicídio:
Amor é um vocábulo tão forte
É justo que sejas só tu, perfeito, a dizê-lo…



Se as palavras parecem doer-me, não é porque tenha nascido em mim algum mal, ou porque te veja de outra forma que não a que sempre vi… é o meu desabafo que é assim. Não criaste nada, nem aquilo que sinto. Não há censuras, já não há metas, não há fins.
É em mim que tudo se passa, e tudo se passa só em mim, inconsequente, sem te trespassar, atravessando-te apenas, indelével, transparente, talvez até irreconhecível. Que desejos comportará um olhar carinhoso, que sentenças são as que a ternura dita?